Tecnologia PLC (Powerline Communication)

15/06/2008

Por Aderbal Borges

A Internet está se tornando, de forma crescente, uma ferramenta vital em nossa sociedade da informação. A cada dia, mais pessoas buscam se tornarem “conectados”, a fim de poderem conduzir, de forma mais simples, rápida e prática, atividades diárias tais como transações bancárias, correspondência pessoal (e-mails), pesquisar novas informações e compras. A cada ano, a obtenção de avanços econômicos, educacionais e sociais fica mais dependente de se estar digitalmente conectado. Portanto, pessoas que não possuem acesso a estas ferramentas estão atualmente em grande desvantagem em relação àquelas que já usam a Internet para desenvolver várias de suas atividades diárias.

Dessa forma, aumentar o nível de inclusão digital – pelo aumento do número de brasileiros usando ferramentas tecnológicas da era digital – é um objetivo vital e de importância nacional e estratégica.  A economia digital está movendo o País para uma maior prosperidade. O objetivo da inclusão digital é buscar que todos os brasileiros (ou pelo menos a grande maioria deles), independentemente de idade, sexo, renda, raça, origem étnica, nível de excepcionalidade ou localização geográfica, ganhem acesso às ferramentas e habilidades tecnológicas necessárias na nova economia.

Os Governos Federal, Estadual e Municipal, vêm desenvolvendo iniciativas diversas, visando reduzir a exclusão digital e promover uma crescente participação da população menos favorecida na economia digital. A maior e principal iniciativa em andamento tem sido voltada para a inclusão digital das escolas públicas dos níveis fundamental e básico.  Os Programas GE SAC, PC Conectado e Casa Brasil, são algumas das últimas iniciativas em discussão no Governo Federal, que objetivam a ampliação da inclusão digital, particularmente nas áreas de educação, saúde e governo eletrônico (e-gov).  Entretanto, apesar destas iniciativas, o Brasil ainda está longe de poder garantir a inclusão digital dos brasileiros.

Como podemos observar, atualmente cerca de 10% da população brasileira tem acesso à Internet, mas apenas 12% destes, ou seja, 1,2% da população, tem acesso a banda larga, muito embora estima-se chegar a 2% da população com banda larga até o final de 2005. Estes índices mostram uma situação muito crítica para a inclusão digital brasileira, apesar de, em termos quantitativos, o Brasil estar comparável a outros países desenvolvidos. Segundo a UIT, em 2003 o Brasil era o 11º no mundo em número de usuários de internet, o 5º em número de Hosts (servidores) e o 10º em número de PCs no mundo. Nas Américas, o Brasil se colocava em 3º. lugar, atrás apenas do Canadá e dos Estados Unidos. (Fonte: UIT 2003) No entanto, a inclusão digital só será verdadeiramente atingida com o acesso banda larga, situação na qual o usuário poderá acessar amplamente os recursos da Internet. Além disso, o acesso banda larga também é importante para a viabilização de novas tecnologias, como VoIP.

Neste sentido, a situação do Brasil é muito crítica, notadamente quando comparada a Países do Primeiro Mundo, conforme mostrado acima. Os números de acesso à Internet mostrados na Tabela acima não são oficiais, por não existir uma fonte que pesquise sistematicamente o número de usuários de internet no Brasil. O último número publicado pela UIT e que é adotado internacionalmente, é o de 2002 e que apontava a existência de 14,3 milhões de usuários.

Utilizando-se dados do IBGE (PNAD) e também do Ibope/netratings, verifica-se que, ao contrário do número de acessos banda larga, o número de usuários domiciliares de internet no Brasil manteve-se estável em 2004. Observa-se, pois, uma tendência à estabilização no número de acessos à Internet em torno de 10-12%, enquanto ainda cresce o percentual de usuários com acesso banda larga. Este crescimento no número de acessos banda larga vem ocorrendo particularmente em virtude das contínuas reduções nos preços destes acessos. Divulgações de resultados de pesquisas recentes mostram que 53% dos internautas com acesso discado estão dispostos a adquirir serviços banda larga, mas 71% destes apontam que os custos destes serviços estão muito acima do desejado.

Dados levantados pela Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD), da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2001, mostravam que dos 46,5 milhões de domicílios do País com serviços e bens duráveis (quadro que muitos denominam de inclusão eletroeletrônica): a) 96% deles têm iluminação elétrica; b) 89% têm televisão; c) 88% têm rádio; d) 85,7% têm geladeira; e) 58,9% têm telefone; f) 12,6% têm computador; g) 8,6% acessam a internet. Vemos, pois, que a rede de energia elétrica tem uma capilaridade quase absoluta, atingindo 96% dos domicílios brasileiros (estimativas de 2002 apontavam cerca de 99% dos domicílios brasileiros com luz elétrica).

A tecnologia PLC (Powerline Communication), que apenas nos últimos anos vem tendo aplicações e usos disseminados a nível mundial, caracteriza-se como uma tecnologia de Rádio Frequência (RF) que utiliza a rede elétrica de distribuição (tipicamente as redes de média e baixa tensão) como meio de transporte para a transmissão de dados em alta velocidade.

A situação atual da tecnologia PLC e, em especial, dos produtos já disponíveis para uso no mercado, pode ser assim resumida:
disponibiliza canais de comunicação com taxas de até 200Mbps, possibilitando aplicações de acesso básico internet, voz, dados e distribuição de vídeo e aúdio;
utiliza toda a cabeação da rede elétrica de média e baixa tensão, acoplando à rede equipamentos que, sem interferir na condução normal da energia elétrica, inserem os sinais de dados na rede.

Como consequência, transforma potencialmente cada tomada de energia já existente em um ponto de acesso a uma rede de comunicação de dados. Em uma arquitetura típica na baixa tensão, é instalado um equipamento denominado ´Head End´ ou ´Mestre´ (Master) em algum ponto da rede de baixa tensão, em geral próximo ao transformador que alimenta esta rede. Este equipamento Mestre faz interface entre o ´backbone´ de dados disponível com os modems PLC instalados em qualquer tomada interna dos usuários. Toda a rede de baixa tensão transforma-se assim numa grande rede local com taxas de até 200Mbps. Somente na rede de baixa tensão já se pode propagar os sinais digitais por distâncias de até 1,5 km com a tecnologia PLC, sem uso de repetidores. Ao estar dominada a propagação pela rede de média tensão, em breve, esta distância poderá superar os 5 km.

Diversas experiências já foram realizadas no Brasil, no sentido de se avaliar as potencialidades da tecnologia PLC para transmissão de voz e dados pela rede elétrica. As concessionárias Eletropaulo (São Paulo, SP), CELG (Goiânia, GO), CEMIG (Belo Horizonte, MG), COPEL (Curitiba, PR) e Light (Rio de Janeiro, RJ), fizeram experiências piloto, todas com sucesso. Em 2004 a FITec Inovações Tecnológicas, em conjunto com a CELG, Eletropaulo e APTEL (Associação de Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e Sistemas Privados de Telecomunicações), também desenvolveu várias experiências com sucesso, incluindo serviços de acesso à Internet e transmissão de dados e vídeo.

A experiência mais recente, ainda em operação, denominada Projeto Barreirinhas, consistiu na implantação de uma ‘Ilha Digital’ na pequena localidade de Barreirinhas (MA), interligando escolas, prefeitura, postos de saúde e centro de artesanato à Internet, via rede elétrica, com a tecnologia PLC.
Instalada em tempo recorde, usando integralmente infraestrutura de rede elétrica já existente, e acesso à Internet através de antena GE SAC disponível no município, este Projeto trouxe um reconhecido avanço tecnológico, educacional, social e econômico ao município de Barreirinhas, em apenas alguns meses, comprovando a potencialidade da tecnologia PLC.
 
Em todas estas experiências ficou evidente a simplicidade e rapidez com que se pode ‘iluminar’ uma região, através da rápida instalação dos equipamentos na rede elétrica já existente.  Cabe ressaltar, neste aspecto, a grande capacidade de capital intelectual hoje instalada nas concessionárias de energia do país , distribuída de forma capilar e universal, preparada para a prestação de serviços de diversas naturezas, que operam uma extensa rede física de energia, mantendo nível de serviço de alta disponibilidade. Estas equipes, de alto grau de profissionalismo, com um pequeno treinamento adicional, estariam capacitadas à instalação e manutenção de serviços de infraestrutura ‘digital’ sobre esta mesma rede.

A idéia chave que a tecnologia PLC faz nascer na mente dos que se vêm continuamente envolvidos em dar solução à complicada equação da ampliação de serviços em regiões de difícil retorno econômico é aquela sintetizada na expressão ‘compartilhamento de infraestrutura’. Ou seja: utilizar ao máximo o potencial daquilo já investido para poder alcançar maior abrangência de atendimento. Já se chegou a isto no reuso dos postes. A proposta é agora chegar aos fios e até mesmo à tomada de energia elétrica.
Visto deste ângulo, o desafio, este menos tecnológico do que da adoção de uma estratégia para o país, é inverter a equação e, partindo do ‘mercado’ potencial, ou seja, do percentual de brasileiros que se objetiva estarem ‘conectados’ num determinado horizonte, estabelecer metas de custo e propiciar o deslanche do sabido ‘ganho de escala’ que a indústria eletrônica propicia. Só faltam os equipamentos pois, todo o resto está presente: a rede, que os equipamentos tratarão de adaptar, e a capacidade de prover e operar o serviço básico de infraestrutura de transporte digital, já existente nas concessionárias de energia.

A FITec, juntamente com a APTEL, tem trabalhado intensamente, objetivando criar esta oportunidade para o país. Recentemente coordenou proposta de parceria com a Comunidade Européia, colocando o Brasil como o único país fora da Comunidade Européia para integrar o projeto OPERA (“Open PLC Euroepan Research Alliance”) – projeto no âmbito do programa “Broadband for ALL”, das Tecnologias para a Sociedade de Informação (IST) das atividades de pesquisa da Comunidade Européia. O projeto OPERA, no período 2002-2006 tem por objetivos desenvolver uma nova geração da tecnologia PLC (Power Line Communication) como uma alternativa de acesso para os serviços de telecomunicações (utilizando a rede elétrica de baixa tensão como meio de transmissão), de forma a permitir o acesso Banda Larga para todos os cidadãos europeus a custos acessíveis, até 2007.

Este projeto prevê uma análise de todo o sistema de telecomunicações, considera também os aspectos econômicos e regulatórios relacionados com a tecnologia e envolve 35 entidades entre concessionárias de energia, fabricantes e fornecedores de tecnologia, universidades, reguladores e operadoras de telecomunicações. O orçamento previsto para o período 2004/2006 é de 20 milhões de Euros dos quais 9 milhões financiados pela União Européia.

A tecnologia PLC está madura, as redes elétricas estão disponíveis, as principais concessionárias do país estão capacitadas a iniciar a implantação de ilhas PLC em suas regiões. O que falta para a explosão destas experiências? Apenas a definição do modelo de negócios para a prestação de serviços PLC, ou seja, do sistema de prestação de serviços (forma de exploração dos serviços) e do modelo tarifário. Definidas estas questões, nada segura essa tecnologia, que representa o verdadeiro “unbundling” definido e ansiado pelas Agências Reguladoras de Serviços.

Os fatos acima, o grande número de atividades e experiências em andamento em todo o mundo, inclusive no Brasil, com a tecnologia PLC, os resultados já obtidos com esta tecnologia, as potencialidades da rede PLC para novos serviços e, sobretudo, as grandes possibilidades desses serviços poderem ser prestados a preços significativamente inferiores aos atuais, notadamente em virtude dos avanços da eletrônica e, sobretudo, por utilizarem infraestrutura de rede já instalada e de capilaridade universal, permitem a inclusão da tecnologia PLC dentre aquelas com mais amplas possibilidades de revolucionar as comunicações e a inclusão digital brasileira, em futuro muito próximo, a conferir.

Fonte: teleco.com.br

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