Entrevista com a Engenheira Claudia Deslandes

29/05/2008

A engenheira eletricista Cláudia Deslandes orienta consumidor a prestar atenção em todos os detalhes da instalação

Quando o assunto é instalação elétrica, todo cuidado é pouco. Embora não existam estatísticas no Brasil sobre problemas causados por instalações malfeitas, é sabido que elas são responsáveis por boa parte dos incêndios e dos acidentes domésticos envolvendo principalmente crianças. Projetos inadequados, má execução e materiais de baixa qualidade são os erros mais comuns, provocados pela falta de conhecimento da população e pela ausência de fiscalização dos órgãos públicos.

Para a engenheira eletricista Cláudia Deslandes, o primeiro passo de quem deseja fazer ou reestruturar as instalações elétricas de sua casa deve ser a contratação de um profissional habilitado para o desenvolvimento de um projeto. “Somente um profissional capacitado tem condições de projetar e executar o serviço de maneira eficiente e de acordo com as normas de segurança, item muito importante quando se trata de mexer com eletricidade”, afirma.

A existência de um responsável técnico para supervisionar os projetos de instalação elétrica é uma exigência das normas brasileiras que regem o assunto. “Em caso de acidentes em instalações sem um responsável técnico, mesmo que o proprietário do imóvel tenha seguro, ele não será ressarcido de seu prejuízo e poderá também ser responsabilizado se houver danos a terceiros”, alerta a engenheira.

Para a escolha do profissional, Cláudia recomenda que o interessado busque informações em instituições do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) ou do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) regional, que mantêm cadastro dos profissionais habilitados.

Depois de concluído, o projeto deve ser seguido fielmente na execução. Caso haja necessidade de alterações, o projetista deve ser avisado para proceder as mudanças. “É muito comum que seja identificada alguma necessidade de alteração durante a execução da obra, mas a mudança é feita sem que o responsável técnico tenha conhecimento, o que também coloca em risco a segurança e a eficiência do projeto”, afirma Cláudia. Segundo ela, o projeto elétrico deve ficar com o proprietário do imóvel para ser consultado sempre que houver alguma reestruturação ou reforma do imóvel. (DM)



O perigo das gambiarras
As famosas gambiarras devem ser eliminadas das instalações elétricas, pois comprometem a eficiência dos equipamentos e a segurança do imóvel e de seus usuários. Um exemplo de adaptações que podem provocar acidentes e prejuízo é o uso do T, o popular benjamin, na ligação de diversos aparelhos numa mesma tomada. “O excesso de equipamentos sobrecarrega os fios que alimentam a tomada, causando choques e até a queima dos aparelhos, sem falar do desperdício de energia elétrica, diz Cláudia, que recomenda evitar o uso de extensões. “O ideal é ter uma tomada para cada equipamento e é justamente aí que entra um bom projetista, que saiba prever as necessidades gerais do usuário”, avalia.

Cláudia lembra que fios desencapados e mal isolados, bem como as emendas malfeitas, podem gerar fuga de corrente, aumentando o risco de choques. “Isso também pode aumentar o consumo de energia e, em função dos choques, colocar em risco a vida dos moradores da casa”, destaca.

Os disjuntores das instalações elétricas também merecem cuidado. Segundo a profissional, o desligamento de um disjuntor é sinal de problema nas instalações e a causa deve ser pesquisada por alguém habilitado. “Não é raro, nesses casos, que o leigo faça a substituição do disjuntor por outro de maior capacidade para resolver o problema. No entanto, trata-se de um dispositivo de segurança de instalação. Em caso de desligamento, é sinal de que algo está errado. Com a simples troca, o problema vai persistir, podendo se tornar mais grave”, explica.

Outra dica importante para quem deseja refazer instalações elétricas ou aumentar o número de equipamentos elétricos e eletrônicos em casa é verificar o tipo de energia fornecida pela concessionária. “A tensão poderá ser de 127 ou 220 volts e o fornecimento monofásico, bifásico ou trifásico. Caso o fornecimento seja de 127 volts e haja necessidade de ligar um equipamento de 220, será preciso mudar a entrada de energia”, informa. Em Minas, a Cemig pode informar o tipo de fornecimento, basta que o interessado tenha em mãos o identificador do imóvel que consta da conta de luz



Produtos devem ter certificado
A qualidade dos materiais é de fundamental importância para a segurança e a eficiência das instalações elétricas. Cláudia Deslandes recomenda o uso apenas de produtos certificados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que podem ser identificados por um selo gravado em sua embalagem. “O selo do Inmetro é a comprovação de que o produto foi testado e tem as características exigidas pelas normas”, afirma.

Ela lembra que o mercado está “infestado” de materiais de procedência duvidosa, que não têm garantia e que, se forem usados, podem comprometer as instalações e provocar acidentes. Um exemplo são os reatores chineses, de baixa durabilidade e que causam ruídos nas instalações. “São muito mais baratos que os similares nacionais certificados, mas não têm eficiência e sua vida útil é pequena”, denuncia.

Há ainda as mangueiras corrugadas, por onde passa a fiação. “As de baixa qualidade são as amarelas, com preços bem baixos, mas fabricadas fora da norma técnica. Têm pequena flexibilidade e, com pouco tempo de uso, ressecam e ficam quebradiças”, diz a engenheira.

O consumidor também deve ficar atento na hora de comprar os cabos elétricos fabricados com fio de cobre. De acordo com Cláudia, há no mercado produtos com menos cobre que o recomendado pelas normas. “O ideal é optar por produtos de fabricantes e revendedores idôneos, que trabalham em conformidade com as normas do Inmetro. Principalmente com essa onda de furtos de fios de cobre. Se não houver cuidado, corremos o risco de comprar o produto de um interceptador”, alerta.

Cláudia lembra que, pelas normas vigentes no país, as instalações elétricas de áreas molhadas têm de estar protegidas pelo Dispositivo Diferencial Residual, equipamento conhecido como DR. “Trata-se de um equipamento relativamente caro, custa em média R$ 200 e deve ser instalado nas tomadas de banheiros e cozinhas para evitar choques”, diz. A quantidade de dispositivos depende do tipo de equipamento ligado às tomadas. “Uma geladeira, por exemplo, precisa de um dispositivo só para ela”, ressalta.

Saiba mais
Na hora de comprar ou alugar um imóvel, os seguintes cuidados devem ser tomados

• Conferir se as instalações foram projetadas e executadas de acordo com a norma NBR 5410, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

• Exigir o projeto elétrico conforme a norma NBR 5410. Toda edificação deve ser projetada por profissional habilitado. O projeto é o dossiê da edificação, que sempre deverá estar ao alcance do usuário.

• Verificar o tipo de fornecimento de energia elétrica. A tensão pode ser de 127 ou 220 volts e o fornecimento monofásico, bifásico ou trifásico. Caso o fornecimento seja de 127 volts e se faça necessária a ligação de um equipamento de 220, será preciso modificar a entrada de energia. Nesse caso, consultar o projeto elétrico ou a Cemig, que informa o tipo de fornecimento por meio do identificador da conta de luz.

• Verificar na Cemig se há contas vencidas e manter o nome do consumidor atualizado.

• Antes de comprar um imóvel, pedir a um profissional habilitado que faça uma inspeção ou vistoria, para detectar possíveis defeitos na rede elétrica e exigir os devidos reparos.

• Em caso de reforma ou adaptações no imóvel, contratar um profissional habilitado e exigir o projeto e a anotação de responsabilidade técnica expedida pelo Crea regional.

Fonte: Jornal Estado de Minas, 07/10/2007.

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