O Setembro Verde, mês da pessoa com deficiência é momento de reflexão sobre as novas tecnologias e de se pensar sobre novas oportunidades na Engenharia. Como sugestão de leitura o artigo:
“Engenharia 4.0 – tecnologias assistivas, seus potenciais e oportunidades profissionais” de autoria da Engª. Fabyola Resende, Pós-graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho e Mestranda em Bioengenharia.
Crianças utilizando próteses em 3D.
Fonte: Enabling the Future. Disponível em www.enablingthefuture.org
Engenharia 4.0 – tecnologias assistivas, seus potenciais e oportunidades profissionais
Engenheira Eletricista Fabyola Gleyce da Silva Resende
Lançada no dia 31 de agosto de 2017, a campanha Setembro Verde oficializa o mês de setembro como referência nacional na luta pelos direitos à acessibilidade. A escolha deste mês foi em decorrência do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, 21 de setembro.
A Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento de característica multidisciplinar, que envolve desde os profissionais da saúde aos profissionais da engenharia. Engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que tem como objetivo promover a funcionalidade relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Esse conceito foi proposto pelo Comitê de Ajudas Técnicas da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República em 2009.
O custo de fabricação ou aquisição de um recurso adaptativo pode apresentar preços elevados, o que impossibilita muitos pacientes darem continuidade ao tratamento em domicílio. Com isto, torna-se necessário investigar como as tecnologias emergentes podem contribuir na ampliação de estratégias das intervenções terapêuticas tanto em centros de reabilitação quanto no lar do paciente.
É relevante ressaltar a importância dos termos técnicos adequados para uma perspectiva inclusiva. Os termos são sensíveis à mudanças e seus significados incorporam novas abordagens com o decorrer do tempo. É essencial que a sociedade substitua os conceitos que não mais representam as ideias e informações que são construídas dentro do ideal de plena cidadania, uma vez que uma sociedade inclusiva também deve ter o devido cuidado com a linguagem.
Por que não usar o termo “Portador de Necessidades Especiais” ao invés de “Pessoa com Deficiência”?
De acordo com o Ministério da Saúde (2009) o termo “portador” diz respeito a algo que se “porta” e que é possível se desvencilhar quando se deseja. Pode remeter a algo que é temporário, sendo que a deficiência, na maioria dos casos, é permanente. Já o termo “necessidades especiais” se aplica a todos os seres humanos que possuem ou não uma deficiência.
Usar óculos com um determinado grau e determinado tipo de lente, por exemplo, pode ser entendido como uma necessidade especial de uma determinada pessoa.
O mercado das Tecnologias Assistivas
No Brasil, dados do Censo Demográfico 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstra que, considerando a existência de pelo menos uma deficiência, o percentual de pessoas acometidas é de 7,5% na faixa etária de até 14 anos, 24,9% na faixa de 15 a 64 anos e 67,7% nas pessoas com 65 ou mais anos de idade. Isso representa aproximadamente 40 milhões de pessoas no Brasil e mais de um bilhão de pessoas no mundo, ou seja, 14% da população mundial.
As inovações tecnológicas têm sido fundamentais no processo de facilitar a vida das pessoas com deficiência e o mercado das tecnologias assistivas é um dos mercados com maior potencial de crescimento para quem deseja empreender e gerar impacto social.
Aplicativos de comunicação alternativa como o Hand Talk que faz a tradução de palavras para a linguagem brasileira de sinais (libras), aplicativos que conectam deficientes visuais com voluntários dispostos a “emprestar” a visão, dispositivos que fazem leituras de livros em voz alta, conhecidos como “audio-books“, são exemplos de como as tecnologias assistivas, por meio dos chamados aplicativos sociais, podem descomplicar o cotidiano de pessoas com deficiência e possui grande potencial de mercado para o engenheiro de software. Nos Estados Unidos, esse mercado já movimenta mais de 50 bilhões de dólares por ano.
O mercado das tecnologias assistivas ainda é considerado novo e pouco explorado, porém, com grande potencial ao permitir um olhar diferenciado sobre as áreas da saúde, educação, construção civil, dentre outros. Dados de 2015 revelam que no Brasil haviam 22 investidores em empresas de impacto social ativos, investindo cerca de 177 milhões de dólares.
O empreendedor interessado em atuar na área das tecnologias assistivas e em negócios de impacto social deve, primeiro, procurar perceber quais são as dores reais das pessoas com deficiência e, em seguida, entender como aplicar soluções em modelos de negócio que sejam escaláveis e replicáveis, capazes de atingir a população com deficiência.
A Impressão 3D como Tecnologia Assistiva
Outro setor que tem desempenhado um papel nobre e fundamental no processo de reabilitação de pessoas com deficiência é a impressão 3D, também conhecida como manufatura aditiva. A impressão 3D consiste na criação de um objeto físico por impressão, camada sobre camada, de um modelo ou desenho digital em 3D e é uma das tecnologias que integram a chamada “Indústria 4.0” ou Quarta Revolução Industrial.
Essa tecnologia possui uma extensa gama de aplicações, que envolve desde grandes confecções como turbinas eólicas até menores, como implantes médicos. Uma das aplicações da impressão 3D que merece destaque é a impressão de próteses e órteses. Uma prótese confeccionada por uma impressora 3D é um dispositivo menos sofisticado que uma prótese médica, porém é mais barato, prático e pode ser personalizada de acordo com cada necessidade.
Fundações como a Enabling the Future reúnem indivíduos de todo o mundo que usam impressoras 3D para criar mãos e braços em três dimensões para deficientes físicos, que necessitam de um dispositivo de apoio para membros superiores. Profissionais de várias partes do mundo colaboram com maneiras de ajudar a melhorar os projetos de impressão 3D para mãos e braços para pessoas que nasceram sem esses membros ou foram vítimas de acidentes, guerras ou desastre natural. A comunidade e-Nable é composta por engenheiros, professores, estudantes, cientistas, profissionais médicos, designers, pais, crianças, filantropos, artistas, dentre outros, e permite que pessoas que necessitam de próteses especiais sejam conectados com profissionais que possam imprimir esses dispositivos.
Restrições atuais em relação ao tamanho, custo e velocidade de impressão estão sendo progressivamente superadas, o que fará com que essa tecnologia se torne mais difundida levando acreditar que, nos próximos anos, estará presente em todos os segmentos do dia a dia da sociedade.
É válido ressaltar que o setor da impressão 3D está aberto a novos investidores e desenvolvedores, o que tem levado ao desenvolvimento tanto da parte física das impressoras quanto nos softwares utilizados, capazes de tornar essa tecnologia mais acessível. Em um período de 10 anos, a impressora 3D reduziu seu preço de cerca de
U$ 20.000,00 para U$ 500,00 e o processo de impressão tem-se tornado cada vez mais rápido.
A tendência de crescimento deste setor se dá devido às novas demandas de diferentes segmentos como a área médica, arquitetura e construção, automotivo, indústria de máquinas e equipamentos, indústria aeroespacial, brinquedos, agricultura, moda, alimentação e vários outros.
Atualmente estima-se que 95% dos objetos fabricados por impressão 3D envolvam o mercado industrial, porém a demanda por produtos de precisão tem aumentado, o que gera novas oportunidades de negócio. A economia brasileira tem ganhado uma poderosa aliada ao permitir o acesso da população a produtos antes inacessíveis em termos financeiros e a consequente geração de empregos e renda.
Por fim, conclui-se que a área das tecnologias assistivas além de gerar um forte impacto social positivo, também representa boas expectativas para a engenharia em suas múltiplas modalidades, desde o engenheiro de software ao bioengenheiro.
A chamada “cibercultura” integra cada vez mais as diferentes realidades da sociedade contemporânea, capaz de influenciar e reconfigurar os processos de aprendizagem e desenvolvimento. Essa constatação é ainda mais evidente quando nos referimos às pessoas com deficiência. Como bem afirmou Mary Pat Radabaugh em 1993:
“Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”.
Sobre a autora: Fabyola Gleyce da Silva Resende é Engenheira Eletricista, pós-graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho. Atualmente cursa disciplinas no programa de mestrado em Bioengenharia na UFMG. Dedica-se a pesquisas na área das Indústrias 4.0 e possui qualificação profissional na área das Tecnologias Assistivas pela Faculdade de Medicina da UFMG em parceria com o Ministério da Saúde por meio da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS).
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