ABEE
A revista ELETROTÉCNICA DE Agosto de 1937 – No. 4 – Ano 2, publicada por engenheiros do antigo Instituto Eletrotécnico de Itajubá, hoje UNIFEI, traz na foto de capa e artigo de primeira página “A Eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil”, inaugurada no dia 10 de julho daquele ano.
Na página 128 publica com destaque, matéria sobre a fundação da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHEIROS ELETRICISTAS, cuja Diretoria e Conselho Diretor foram eleitos em Assembléia Geral realizada no dia 29 de junho.
Entre os vários artigos técnicos, o da página 131, “A INDÚSTRIA ELÉTRICA NO BRASIL”, é creditada à eletricidade uma segunda revolução industrial, mais profunda que a primeira, ocorrida no século anterior. E complementa: “Não é outra a opinião do economista e sociólogo francês Georges Valois, que afirma estar o mundo no umbral de uma nova idade – a da eletricidade”. Também cita o americano John E. Rankin que diz que a eletricidade “deu à humanidade uma ascendência sobre as forças da natureza nunca atingida anteriormente” e que “uma fase dessa transição para a Idade da Energia se caracteriza pelo desenvolvimento da energia hidrelétrica.”
Apesar da descoberta científica da eletricidade ter ocorrido no início do século XIX, o seu emprego no Brasil só ocorreu na segunda metade do século, com a inauguração do telégrafo elétrico (1852) e a primeira experiência com um aparelho telefônico (1878) no Rio de Janeiro; a primeira iluminação pública em Campos-RJ (1883); a primeira hidrelétrica para fins industriais em Diamantina-MG (1883) e a primeira de uso público, a “Marmelos Zero”, em Juiz de Fora-MG (1889). Segundo consta, também os primeiros motores elétricos instalados no Brasil, já no limiar do século XX, o foram em Juiz de Fora, sendo um de 30 CV “Westinghouse”, na Fábrica de Tecidos Bernardo Mascarenhas, e outro, de 20 CV, italiano, na empresa Pantaleone Arcuri & Timpani. São dados que apontam para o pioneirismo de Minas Gerais na aplicação da eletricidade para fins industriais e na geração de energia hidrelétrica, além de ter contribuído de forma determinante para que se promovesse grandes transformações e um extraordinário desenvolvimento de novos ramos e processos industriais.
Em todas as aplicações da eletricidade até então, a energia elétrica era produzida em geradores de corrente contínua, acionados quase todos por máquinas a vapor, ou em pilhas, no caso dos telégrafos e telefones. Porém, o avanço no consumo industrial da energia elétrica foi lento. Além do medo que ainda causava nas pessoas, pelo seu caráter invisível e por seus efeitos, também era difícil convencer a muitos industriais que o pequeno motor elétrico substituía com vantagem as barulhentas e fumegantes caldeiras e máquinas a vapor. Portanto, não foi sem razão que o livro “A Energia Elétrica no Brasil – da primeira lâmpada à Eletrobrás” cita que “para a expansão da energia elétrica no país foi preciso vencer a natureza e convencer os homens”.”
Em meados da década de 30, já havia no Brasil quase mil usinas de geração de energia, sendo mais de 60% de hidrelétricas. Mas, na sua maioria, cada uma com sua rede independente, sendo raras as interligações entre sistemas, pois a primeira interligação só surgiu em 1930 no interior do Estado do Rio.
Em 1935 surgia o primeiro computador, ainda eletromecânico e de dimensões enormes, e em 1937 registrou-se a primeira transmissão oficial de sinais de TV, na Alemanha e na França. Só muitos anos depois surgiu o computador totalmente eletrônico, ainda de grande porte, e o acesso às imagens de TV no Brasil. Eletrodomésticos também eram raros e importados, até mesmo o rádio.
Foi sob este panorama que, em 29 de junho de 1937, um grupo de Engenheiros Eletricistas fundou, no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas – ABEE Nacional, que foi a primeira associação específica para engenheiros de uma determinada especialidade. O Brasil contava, então, em torno de 1.300 MW, 100% nas mãos da iniciativa privada com aproximadamente 1500 empresas geradoras e distribuidoras de Energia Elétrica em todo o país. A telefonia era quase inexistente e a comunicação era feita pela telegrafia.
Logo em seguida tivemos o início da 2ª Guerra Mundial e tudo parou, até por volta de 1946, ano em que se instalou a primeira linha de transmissão de longa distância, interligando os sistemas de Rio e São Paulo. Pouco depois, em 1947, com a invenção do transistor, a Engenharia Elétrica iniciou sua grande arrancada. Na década de 50 começaram a surgir as hidrelétricas de grande porte, os eletrodomésticos passaram a ser o grande sonho de consumo e já ao alcance de uma parcela da população, a indústria eletrônica começou a se desenvolver para ser o que é hoje, difícil de enumerar e acompanhar os seus avanços.
É inegável o impacto social da eletricidade desde suas primeiras e múltiplas aplicações. No entanto, pode-se dizer que o uso generalizado da eletricidade só ocorreu a partir da década de 50, quando a presença da ABEE Nacional foi marcante, conforme importantes registros de sua história.
Vinte anos depois de fundada a ABEE Nacional, em 12 de setembro de 1956, foi criada a ABEE-SP, que nos seus 50 anos de existência também tem contribuído largamente para o setor. A partir de então, surgiram outros braços estaduais da ABEE.
Em Minas Gerais ocorreu uma iniciativa no passado, com a fundação da Sessão Local da ABEE de Itajubá no dia 11 de outubro de 1959, na abertura da V SEMANA DO ELETROTÉCNICO promovida pelo Diretório Acadêmico do antigo Instituto Eletrotécnico de Itajubá. Este registro consta do programa daquele evento publicado no “O DÍNAMO” de 30 de setembro de 1959, jornal este editado também pelo Diretório Acadêmico do I.E.I. Desde então não foram encontrados outros registros das atividades deste braço mineiro da ABEE.
Em Assembléia Geral realizada em 14 de dezembro de 2006, finalmente se oficializou a criação da ABEE-MG, por iniciativa de um grupo de Engenheiros Eletricistas sensíveis aos reclamos de tantos profissionais da área, que não contavam com um órgão específico de defesa da classe em Minas Gerais.
Em pouco tempo de trabalho, a ABEE-MG vem conseguindo ampliar o número de associados, promover palestras, Seminários e Cursos para atualização profissional, assim como firmar parcerias, cumprindo seu principal objetivo de atuar na defesa, valorização e desenvolvimento dos profissionais da área da Engenharia Elétrica de todas as suas modalidades – Eletrotécnica, Telecomunicações, Computação, Controle e Automação e outras afins – visando a segurança e qualidade de vida da sociedade.
Resta-nos confiar no futuro, cujo sucesso dependerá não somente dos dirigentes da Associação, mas de todo o seu quadro associativo, todos se mobilizando para uma participação efetiva e responsável nos problemas e destinos do país, influindo diretamente no âmbito de sua formação profissional, com consciência ética e social.
Também vale ressaltar que, tendo o historiador Engo. Pedro Carlos da Silva Telles, em seu livro “História da Engenharia no Brasil”, citado o século XX como “o século da eletricidade”, não há dúvida de que este, agora, é “o século da eletrônica”, pelo alto nível e rapidez de seus avanços tecnológicos, em especial nas áreas de automação e tecnologia da informação, pela sua grande influência em todos os aspectos da vida humana.